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Esta foto, tirada em 12 de setembro de 2018, mostra Jin Mingri, pastor-chefe da Igreja de Sião | FRED DUFOUR/AFP via Getty Images |
O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, pediu a libertação imediata do pastor Jin Mingri — também conhecido como Ezra Jin —, líder de uma igreja clandestina detido recentemente na China. O pedido foi feito pelo Departamento de Estado após uma ampla operação das autoridades chinesas contra grupos religiosos não registrados.
Segundo informações de sua filha, Jin foi preso na sexta-feira em sua residência, na cidade de Beihai, província de Guangxi. No mesmo período, cerca de 30 líderes e fiéis da Igreja de Sião também foram detidos ou estão desaparecidos em várias cidades chinesas, incluindo Pequim, Xangai e Shenzhen, informou o The New York Times.
O secretário de Estado Marco Rubio emitiu uma nota condenando as prisões e exigindo que Pequim permita a livre prática religiosa sem intimidações. “Essa repressão demonstra a hostilidade do Partido Comunista Chinês contra cristãos que se recusam a aceitar sua interferência na fé e optam por cultuar em igrejas domésticas não registradas”, declarou Rubio.
Jin, de 56 anos, fundou a Igreja de Sião em 2007. A congregação evangélica, de caráter independente, tornou-se uma das maiores igrejas subterrâneas do país. O pastor participou dos protestos pró-democracia da Praça da Paz Celestial em 1989 e converteu-se ao cristianismo pouco depois, formando-se no Seminário Teológico Fuller, na Califórnia.
Em 2018, a Igreja de Sião foi oficialmente fechada após uma invasão policial em seu templo em Pequim. Desde então, os cultos passaram a ocorrer de forma virtual, atraindo milhares de participantes em plataformas como Zoom, YouTube e WeChat, de acordo com o The Wall Street Journal.
A filha de Jin, Grace Jin Drexel, que trabalha no Senado dos EUA e vive na região de Washington, afirmou que o pai continuou liderando a igreja remotamente, sob constante vigilância e impedido de deixar a China. A esposa, Chunli Liu, mora nos Estados Unidos desde 2018 com os três filhos do casal, todos cidadãos americanos.
“Eles temem a influência do meu marido”, declarou Liu em entrevista em vídeo. Grace relatou ainda que seu pai tentou recentemente renovar o visto na Embaixada dos EUA em Pequim, mas foi interceptado por agentes, levado ao aeroporto e forçado a sair da capital. Desde então, a família não teve mais notícias sobre seu paradeiro ou eventuais acusações formais.
O pastor Sean Long, que lidera a Igreja de Sião nos Estados Unidos, afirmou acreditar que Jin possa ser acusado de divulgar conteúdo religioso pela internet — prática cada vez mais restringida desde a adoção, em setembro, de novas normas que determinam que apenas organizações religiosas registradas podem atuar oficialmente.
De acordo com Grace Jin, o pai havia considerado se afastar da liderança da igreja para se reunir à família nos EUA. “Ele dizia que algo grande estava para acontecer novamente”, contou ao Times.
Entre os fiéis, cresce o temor de que a repressão se amplie. No domingo, surgiram relatos de novas detenções e desaparecimentos, alimentando o medo de que toda a liderança da Igreja de Sião seja alvo das autoridades.
Bob Fu, fundador da organização americana ChinaAid Association, classificou o episódio como “a mais ampla e coordenada onda de perseguição” contra igrejas clandestinas na China em mais de quatro décadas. Já Corey Jackson, da Luke Alliance, afirmou que se trata da operação mais significativa desde 2018, alertando que a situação pode se agravar.
Embora a Constituição chinesa garanta formalmente a liberdade religiosa, o Partido Comunista — oficialmente ateu — reconhece apenas instituições aprovadas pelo Estado. Estima-se que dezenas de milhões de cristãos frequentem igrejas domésticas sem registro, sujeitas à vigilância e à repressão policial.
Mesmo grupos reconhecidos pelo governo, como o Movimento Patriótico das Três Autonomias (protestante) e a Associação Católica Patriótica Chinesa, enfrentam censura e controle de líderes indicados pelo regime. Alguns templos foram fechados ou demolidos por resistirem às diretrizes oficiais.
Sob o comando de Xi Jinping, o controle sobre atividades religiosas se intensificou. O governo classifica certos grupos como seitas e incentiva a população a denunciá-los, ampliando o cerco à liberdade de culto no país.