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Como cristãos no Irã driblam a vigilância do governo?

Igrejas secretas buscam estratégias para se manter à frente da perseguição cada vez mais sofisticada.
em
27 de agosto de 2025
Imagem ilustrativa

No Irã, quando um cristão é preso, as autoridades não se contentam apenas com a detenção individual: o objetivo é desmantelar redes inteiras de fé. “O serviço de inteligência ou a Guarda Revolucionária acessam computadores e celulares dos detidos para identificar outros contatos cristãos”, explica Mansour Borji, da organização de direitos humanos Article 18.

Além da análise de dispositivos, os agentes recorrem a outros métodos de pressão. “Em muitos casos, cristãos acabam cedendo durante os interrogatórios, especialmente quando suas famílias são ameaçadas. Isso os leva, sob coerção, a revelar informações sobre outros irmãos na fé”, acrescenta Borji.

Outra estratégia do regime é a infiltração direta. Espiões recebem treinamento para fingir interesse pelo cristianismo, aproximam-se dos fiéis e acabam descobrindo onde funcionam as igrejas domésticas, expondo quem participa dos encontros.

Essa constante vigilância cria um dilema para os cristãos iranianos: compartilhar o evangelho sem colocar a comunidade em risco. Por isso, novos convertidos ou interessados raramente são convidados de imediato para os cultos secretos. O primeiro contato acontece, geralmente, em pequenos grupos ou em locais públicos.

Mehrdad (nome fictício), um cristão iraniano, detalha que pessoas solteiras costumam ser o elo inicial com os novos interessados. “Procuramos evitar colocar em perigo aqueles que têm esposa e filhos. Antes de convidar alguém para a igreja, fazemos vários encontros para confirmar sua sinceridade”, relata.

A pergunta permanece: como acolher novos cristãos sem comprometer a segurança? Para os fiéis, a resposta está na dependência da orientação divina. O pastor Iman conta que já houve situações em que Deus revelou que certos indivíduos estavam apenas fingindo interesse. “Eles repetiam frases decoradas, mas sem verdadeiro coração por Jesus. O Senhor nos mostrou quem eram”, afirma.

Viver sob essa pressão constante traz marcas profundas. “Aqui não é como em outros países, onde se pode cantar livremente e levantar as mãos sem medo. Sempre há a tensão de que alguém bata à porta, de que um vizinho escute. Cada reunião tem um plano de fuga preparado. Quando a campainha toca, todos ficam em alerta. As Bíblias e computadores precisam estar prontos para desaparecer a qualquer momento”, diz Mehrdad.

Mesmo assim, os encontros continuam. Para eles, a comunhão é vital. “Estar com outros cristãos e adorar juntos é como sentir o sol no rosto depois de dias de escuridão. Isso nos renova, nos dá esperança e nos lembra que pertencemos ao corpo de Cristo”, conclui.

Fonte: Portas Abertas

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