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O número de "desigrejados" no Brasil, ou seja, pessoas que professam a fé cristã, mas não pertencem a nenhuma igreja, é estimado em 25 milhões, de acordo com o Instagram. (Foto Ilustrativa) |
Nos últimos anos, tem crescido significativamente o número de pessoas que se identificam como cristãs, mas que escolheram não frequentar uma igreja institucional. São os chamados “desigrejados”. Muita gente os julga de imediato, acusando-os de rebeldia, falta de compromisso com Deus ou até de apostasia. Mas será que é justo esse julgamento? Eu penso que não.
Na verdade, compreendo profundamente os motivos que levam tantos irmãos e irmãs a deixarem os templos e optarem por viver uma fé livre dos dogmas, mais íntima, fora das quatro paredes das instituições religiosas. E mais do que isso: apoio quem toma essa decisão com consciência e integridade.
Muitos se afastaram não por falta de fé, mas exatamente por amor a ela. Se decepcionaram com lideranças autoritárias, com escândalos financeiros, com abusos emocionais e espirituais, com uma estrutura que muitas vezes mais oprime do que liberta. Viram igrejas se tornarem empresas, pastores se transformarem em celebridades, púlpitos serem usados como palanques ideológicos e o evangelho ser reduzido a um produto de consumo.
Outros cansaram da hipocrisia institucionalizada: do discurso de amor que não se reflete na prática, da exclusão disfarçada de doutrina, da competição entre ministérios, da busca por números em vez de almas. Em vez de comunhão, encontraram julgamento. Em vez de acolhimento, encontraram exigências. Em vez de Cristo, encontraram estruturas frias.
É claro que há muitas igrejas sérias, comprometidas com o Reino de Deus, com pastores íntegros e comunidades vivas. Mas, infelizmente, são tantas as experiências negativas que não dá para ignorar a dor de quem se afastou. E não cabe a ninguém determinar que a comunhão só acontece dentro de um prédio com nome de igreja.
A igreja de Cristo não é uma instituição, é um corpo vivo. Onde dois ou três se reúnem em Seu nome, ali Ele está. Muitos desigrejados continuam lendo a Bíblia, orando, congregando — mesmo que fora das paredes institucionais — ajudando o próximo, vivendo o evangelho — às vezes de forma muito mais genuína do que quem está religiosamente em todos os cultos.
Por isso, em vez de apontar o dedo, deveríamos ouvir. Em vez de criticar, deveríamos acolher. Talvez o grito silencioso dos desigrejados seja um alerta de que algo precisa mudar. Talvez Deus esteja usando esses irmãos para nos lembrar que a fé não cabe numa estrutura humana.
Afinal, Jesus não fundou templos, mas formou discípulos. Ele não pregava para manter estruturas, mas para libertar pessoas. E é essa liberdade que muitos têm buscado fora das instituições. Que possamos respeitar esse caminho — e quem sabe aprender com ele.